Em meio à pandemia e tantos outros problemas sociais vividos pela população nos últimos meses, a devoção de profissionais da saúde em um dos principais hospitais da região, o São Francisco, revela resultados animadores dando alta à pacientes curados do novo coronavírus.
Mesmo nos momentos mais desanimadores que vivemos nas últimas semanas, atitudes solidárias chegaram de todos os lados para amparar os mais afetados. Não só por medidas e providências de governantes, como de empresas e da própria população se prestando às causas sociais. Mas não há dúvidas que no enfrentamento ao novo coronavírus, os heróis que merecem maior destaque são os profissionais da saúde.
Em contato direto com o vírus em seu dia a dia, estes profissionais colocam a própria saúde em risco na luta para salvar a vida de pacientes infectados. Um desafio que exige humanidade, preparo profissional, dedicação e amor nas rotinas dentro dos hospitais. E estas pessoas estão realizando tudo isso com muita devoção no Hospital São Francisco.
A enfermeira e gestora do serviço de controle de infecção do Hospital São Francisco, Renata Cristina da Silva, já tinha contato com doenças infectocontagiosas antes da pandemia, então ela e os profissionais do HSF já tomavam precauções para evitar a transmissão de outros vírus para fora do ambiente hospitalar. Mas os casos de pacientes confirmados aumentaram rapidamente e isso demandou que essas práticas fossem amplamente intensificadas dentro e fora do hospital nas últimas semanas. “Tive que alterar totalmente a minha rotina, tanto em horário como em relação às visitas de familiares, tendo que me isolar totalmente por ter pessoas de risco na minha família e amigos. Mas procuramos sempre realizar vídeo chamadas. Quando chego em casa, brinco e passeio com meus animais de estimação, tenho 4 cachorros, e isto tem me ajudado muito. Mas confesso que tem noites de choro… estamos vivendo um período muito difícil e incerto e estar na linha de frente nos gera também medo de ficar doentes, também estamos assustados”, conta a enfermeira.
A equipe de suporte especial ao covid-19
Para conseguir atender devidamente pacientes com o novo coronavírus, ao mesmo tempo em que a atenção aos demais segmentos do hospital não poderiam ser postos de lado, formou-se então uma equipe de suporte para atuar especialmente no combate à epidemia, atendimento de suspeitos e tratamento de casos positivos.
Além das práticas cuidadosamente higiênicas que já eram cumpridas no HSF, outras foram implementadas ou aplicadas com maior rigor, como conferências e distribuições de equipamentos de proteção individual e até o deslocamento dos profissionais à campo para ensinar sobre o uso correto das máscaras e como evitar a disseminação do vírus. A atenção do hospital foi dobrada não apenas no cuidado de pacientes, mas com a própria equipe médica, nos resultados de exames, no tempo de coleta e interpretação clínica e laboratorial relacionados a covid-19.
A enfermeira conta que as unidades intra-hospitalares que costumavam ser destinadas ao atendimento setorial de patologias não cirúrgicas e unidades de terapia intensiva foram parcialmente modificadas para o atendimento de pessoas com suspeitas ou confirmações de coronavírus. Também foi preciso reforçar o número de colaboradores com experiência na área de atendimento a pacientes em estados críticos na instituição.
“Já foram internados mais de 80 pacientes confirmados com essa condição nas mais diversas situações: casos leves com fatores de risco de piora, casos moderados que necessitavam reavaliação frequente até pacientes graves com necessidade de ambiente de terapia intensiva, ventilação mecânica e terapia dialítica por insuficiência renal aguda”, comenta Renata sobre a realidade enfrentada pela equipe especial e os casos tratados por eles.
O que de fato a doença causa no corpo?
Embora muito já tenha sido discutido desde que o início dessa pandemia, muitas pessoas ainda têm dúvidas acerca dos efeitos da doença no corpo. Que a doença pode ser transmitida facilmente pelo ar ou por contato físico, já ouvimos bastante nos últimos meses, assim como os cuidados e medidas que devemos tomar dentro e fora de casa. Mas o que de fato essa doença ocasiona no corpo?
O médico infectologista Dr° Guilherme Spaziani explica que o vírus gera, principalmente, sérios problemas respiratórios, mas dependendo do paciente, há ainda o comprometimento de outros órgãos. “É uma doença sistêmica que pode causar fenômenos trombóticos, inflamações exageradas e, em alguns casos, pode prejudicar todo o organismo. Os principais órgãos acometidos são os pulmões, causando pneumonia viral, o que pode levar a necessidade do uso de ventilador mecânico, pelo tamanho comprometimento dos órgãos que ocasiona na oxigenação precária dos tecidos. Mas rins também são comprometidos, assim como coração e o cérebro”, completa.
Agora até as pequenas conquistas são importantes para manter-se otimista
Quando se trata de uma doença que está famosa por afastar as pessoas, pacientes que teriam melhor recuperação com a presença física familiar podem receber um apoio alternativo no tratamento. Devido à facilidade de propagação do vírus, restringiram-se visitas externas em todas as unidades de saúde de atendimento específico ao coronavírus. E com tais medidas, explorar outros caminhos para aproximar o paciente de sua família é uma prática interessante para dar a volta por cima nesse momento difícil.
Dra. Helen Fusco é fisioterapeuta no HSF e tem se dedicado também em ajudar no emocional dos pacientes para enfrentar esse distanciamento durante o tratamento. Ela conta que os internados pelo vírus ficam com medo, então ela e a equipe conversam e interagem o máximo possível para eles alcançarem bons resultados.
“Tivemos desfechos bem animadores aqui no hospital, tanto de idosos como de pessoas jovens que estavam em estado delicado. Tivemos uma jovem na UTI, uma puérpera, que permaneceu em torno de 40 dias internada conosco, permaneceu intubada, traqueostomizada, teve momentos muito difíceis, mas lutou muito e venceu a COVID-19. Voltou para casa e para o bebezinho dela. Foi muito emocionante para toda a equipe. Acho que nunca me esquecerei dela e de toda sua luta, me marcou muito”, conta emocionada a fisioterapeuta.
Talvez o uso de smartphones seja o mais utilizado, quando as pessoas podem facilmente se comunicar não só por ligação e mensagens, mas também por chamadas de vídeos. Essa opção está cada vez mais frequente, já que é uma alternativa prática em que se pode ouvir, ver e interagir com parentes e amigos sem colocá-los em risco. Para a enfermeira Renata, até mesmo simples ações como essas podem trazer conforto e ser motivo para alguém sorrir. “Em meio a tantas notícias ruins, precisamos nos apegar as conquistas vencidas. Sejam elas pequenas, como uma melhora parcial dos exames. Até as maiores, como a felicidade de dar uma notícia de alta hospitalar para um familiar que não via o seu parente há semanas. O que move o ser humano são os objetivos que ele planeja e conosco não poderia ser diferente. Contudo como profissionais de saúde, respeitamos o limite de nossa condição humana e individualizamos o cuidado. Acima de tudo, praticamos o conforto seja ele físico ou espiritual do paciente e da família”, finaliza.
Dr° Guilherme Spaziani acredita que, na luta diária e na atenção especial que está sendo dedicada a esse cenário desafiador, os profissionais podem se aperfeiçoar e atingir resultados cada vez melhores com o que estão descobrindo a cada paciente tratado. “A notícia boa é que, cada vez mais, estamos aprendendo com essa doença, o que possibilita um tratamento mais adequado e eficaz para os doentes”, comenta. De acordo com o médico infectologista, até o dia 25 de maio, 70 pacientes confirmados de covid 19 já haviam recebido alta no hospital. Quarenta e dois continuavam internados e só um veio a óbito. Entre os primeiros casos de pacientes curados, há até idosos e pessoas no grupo de risco que já passam bem.
Por Eric Ribeiro